Pipocam cada vez mais perfis de psicólogos nas redes sociais e entre estes, pipocam alguns que ao pretenderem defender a Psicologia como ciência e profissão, incorrem em faltas éticas, epistemológicas e induzem o público leigo a erro.
É cada vez mais frequente aparecerem perfis, não raras vezes, com fins de autopromoção, dizendo que a Psicanálise seria uma Pseudociência. Nesse sentido, psicanalistas sérios que atuam em pesquisa clínica e desenvolvimento científico como Christian Dunker, já tentaram demonstrar a problemática retórica e epistemológica dessa afirmação que é sim FALACIOSA.
Pergunto: O que caracteriza a ciência? E mais do que isso, o que caracteriza o método científico? Estudos clínicos de caso, como os que são frequentes na trajetória de Freud e de pesquisadores da psicanálise são considerados metodologias legítimas para a produção do conhecimento.
Eu nunca vi em nenhum desses perfis uma descrição do que seria ciência. Ora, se se pretende acusar determinado saber de ser pseudocientífico é necessário, antes, que se diga o que é ciência. Outra coisa que nunca vi foi uma descrição da complexidade de produzir pesquisas a respeito do objeto de conhecimento da Psicologia e da Psicanálise; a subjetividade. Pois bem, a subjetividade humana é mensurável em laboratório? O objeto de conhecimento e de investigação das ciências psi, incluída aí, a Psicanálise, não é palpável. E para produzir estudos com metodologias observáveis, ou seja, estudos de observação de comportamentos, é necessário partir de pressupostos filosóficos que garantam que por analogia, certas comparações podem ser feitas. Um exemplo disso é a utilização de animais em laboratório com a finalidade de produzir conhecimento em Psicologia.
Isto que estou descrevendo a título de introduzir o tema mostra que não é simples definir critérios de cientificidade, menos ainda nas ciências humanas e na Psicologia. Na esteira dessa problemática, fica mais visível a complexidade da falaciosa afirmação que quer deslegitimar a psicanálise enquanto saber e prática. Mas, o que se quer quando se pretende desqualificar um saber, uma prática? Para início de conversa, cabe dizer que há um código de conduta para os profissionais de Psicologia que os desautoriza a disseminar informações que não tenham comprovação e/ou que não tragam benefício a população. Além disso, infelizmente há psicólogos se sentindo autorizados a desrespeitar outros psicólogos, colegas de profissão que se orientam pela teoria psicanalítica. Sim, isso é considerado falta ética, nos dois sentidos.
Mas mais do que isso. A finalidade de se autopromover se coloca à frente de qualquer compromisso com fidedignidade de argumentação e de informações públicas. O que se quer, no fundo, como diria Michel Foucault (talvez o filósofo mais crítico às ciências psi), quando se pretende desqualificar um saber? Afinal de contas o que se pretende quando um determinado representante de saber deslegitima outro? Exercer poder, reafirmar a legitimidade da própria prática, reafirmar um lugar de autoridade em determinado assunto. Não se pode falar em Psicologia enquanto unidade homogênea, se pode apenas falar em Psicologias, como diria Luis Claudio Figueiredo. Isto porque o sujeito humano ė.complexo e as formas de aborda-lo, estuda-lo etc, também são..
E o problema de tudo isso, além dos elencados acima, é que isso seja feito com falácias retóricas, sofismo barato, sem compromisso com a verdade.
Não caia em discursos simples e com tom de polêmica. A discussão sobre ciência e critérios de cientificidade não cabe nos parâmetros restritos das redes sociais. É necessário ir além e é necessário questionar a intencionalidade de certos discursos que lemos por aqui.
(Flávia Andrade Almeida, psicóloga hospitalar, especialista em Psicologia da Saúde, Psico-oncologia e Prevenção do Suicídio. Mestre em Filosofia e Doutoranda em Psicologia Clínica. Docente. Autora do livro Suicídio e Medicalizaçao da vida - reflexões a partir de Foucault. Adm da Psicologia e Prevenção do Suicídio. Autora do livro Suicídio e Medicalizaçao da vida - reflexões a partir de Foucault).
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