A obrigaçao do ser forte e a permissão para chorar
Existem algumas crenças (de senso comum, sobretudo), de que reconhecer sofrimento emocional pode ser um sinal de fraqueza. E mais do que isso, existe uma certa dificuldade por parte de algumas pessoas em reconhecer o próprio sofrimento e/ou de tolerar a dor do outro. Nesse sentido, o que não é raro ver, é o incentivo a uma espécie de obrigação de "pensar positivo" ou de "se esforçar" para que "fique bem". Como se fosse algo simples passível meramente de escolha racional e deliberada.
Há uma dificuldade de reconhecer o próprio limite emocional (entre outros aspectos) porque a própria noção de saúde na sociedade ocidental é bastante ampla, controversa, e por vezes até mesmo, vaga. Existe uma noção de que saúde é um estado de bem estar. Mas é bastante simplorio generalizar essa noção vaga de bem estar, uma vez que isso desconsidera as singularidades de cada pessoa e suas capacidades de desenvolver novas formas de se readaptar, se reinventar e se transformar de acordo com suas experiências, vivências e suas próprias dores (fisicas, psíquicas etc).
Nesse sentido, endosso a fala de pensadores como Winnicott e Canguilhem que defendem a ideia de saúde como algo da ordem do refazer, constantemente, o próprio bem estar. Cada pessoa possui seus limites e sua forma de encontrar e respeitar tais limites. Mas reconhecer a angustia, o sofrimento individual e o próprio limite emocional nada tem de fraqueza. É o mais puro e verdadeiro respeito consigo mesmo. Nesse sentido, chorar pode constituir uma forma fundamental de expressar e exteriorizar o proprio sofrimento. É necessário que se permita ao choro, sem medo. Nossa sociedade pode nos levar a pensar no choro como via de acesso irreparável a depressão, mas não se deve ter medo do choro, a depressão nao é a mera continuidade do choro. Choro e tristeza sao parte de nossa condição humana e sao absolutamente normais (do ponto de vista existencial) e necessários. A depressão é um outro tema, (talvez outro post).
Assim, ignorar o que se sente, isso sim, pode ser uma fraqueza por constituir uma forma de enganar a si próprio.
Se permitir a tristeza e buscar ajuda quando necessário é respeito a si próprio. E buscar ajuda profissional também.
(Flávia Andrade, Psicóloga Clínica e Hospitalar Especialista em Psico-Oncologia e Prevenção do Suicídio. Mestranda em Filosofia com o tema: O Suicídio na obra de Michel Foucault)
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